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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Eternas estrelas

Foto: reprodução
No último sábado, dia 4 de outubro, Hugo Carvana nos deixou. Aos 77 anos, o ator e cineasta foi vítima de complicações causadas por um câncer no pulmão. O Festival do Rio deste ano exibiu uma sessão especial de “Vai Trabalhar, Vagabundo” (1973), em que atuou como diretor. Os familiares estiveram presentes na homenagem, mas Carvana não pôde comparecer por causa de sua já debilitada saúde. Seus últimos trabalhos foram no ano passado: como ator em “Giovanni Improtta” e como diretor, no longa “A Casa da Mãe Joana 2”. Ele entra para a larga e triste estatística dos grandes artistas que perdemos em 2014. Faltando pouco mais de dois meses para terminar o ano, seguimos amargando as sucessivas mortes de grandes nomes da nossa cultura.


Para citar alguns, em janeiro lamentamos a ida do cantor Nelson Ned aos 66 anos, o pequeno gigante da canção, primeiro cantor latino-americano a vender mais de um milhão de discos nos Estados Unidos; e da inesquecível vedete Marly Marley, com 75 anos, que também foi jurada em programas musicais, atriz e diretora de teatro. No mês seguinte, demos adeus ao talentoso músico, compositor e humorista gaúcho de Porto Alegre, Nico Nicolaiewsky, aos 56 anos. E também ao cineasta Eduardo Coutinho, 80 anos, assassinado de forma trágica pelo próprio filho, que sofre de problemas mentais. Um mestre dos documentários, que nos brindou com os filmes célebres "Cabra marcado para morrer" (1985) e "Edifício Master" (2002), dentre outras obras eternas na filmografia nacional.

Em março, o ator veterano Paulo Goulart, aos 81 anos, não resistiu à luta contra o câncer. Goulart começou a carreira como ator de radionovelas e permaneceu em evidência até seu último trabalho na TV, na série “O Tempo e o Vento” e no seriado “Louco por Elas”, ambos da Rede Globo e exibidos em 2012.  No quarto mês do ano, o brilhante ator, dramaturgo, crítico de cinema e incansável José Wilker foi vítima de um infarto fulminante aos 69 anos de idade. Wilker coleciona trabalhos primorosos, como Mundinho Falcão, da primeira versão de Gabriela (1975) e Coronel Jesuíno, do remake de 2012; Giovanni Improtta de "Senhora do Destino" (2004), personagem que ganhou filme em 2013. Em maio, o cenário musical ficou ainda mais triste com a partida de um dos poucos remanescentes medalhões da Bossa Nova, Jair Rodrigues, 75 anos, em decorrência de um infarto agudo do miocárdio. O artista, que começou como crooner, alcançou sucesso com a interpretação de “Deixa isso pra lá”, que é considerada a precursora do rap no Brasil. Em junho, quem nos deixou, aos 91 anos, foi a cantora Marlene, grande nome da época de ouro do rádio. A artista gravou mais de quatro mil canções e sua popularidade rendeu até convites para o cinema.

Já contando para o rol das baixas do segundo semestre do ano, o mês de julho golpeia a literatura brasileira levando-nos de súbito três ícones: o educador, teólogo, Rubem Alves, 80 anos, que entre as suas obras estão livros juvenis, de teologia, filosofia, educação e de crônicas, incluindo “Ostra feliz não faz pérola” de 2009, que ficou entre os três primeiros da categoria Contos e crônicas do Prêmio Jabuti; e os imortais João Ubaldo Ribeiro, 73 anos, — ganhador do Prêmio Camões, em 2008, pela qualidade de sua obra; o maior reconhecimento para autores da língua portuguesa e Ariano Suassuna, 87 anos, defensor da cultura popular brasileira, dramaturgo de renome e autor da peça teatral "Auto da Compadecida" que, anos após a primeira encenação, virou minissérie e filme de sucesso. Em agosto, ouvimos a última nota musical da cantora Cybele, 74 anos, do Quarteto em Cy, formado na década de 1960. A cantora recuperava-se de uma pneumonia, sofreu um desmaio e veio a falecer de isquemia pulmonar. Embora Cybele tenha deixado o grupo para se dedicar à família, é uma voz que sempre fará falta, tanto que em 1967, junto com a irmã Cynara, ganhou o Festival da Canção com “Sabiá”, ficando à frente de Geraldo Vandré e a sua épica música "Pra não dizer que não falei das flores”. 


O ano de 2014 está tristemente marcado pela morte de tantos nomes importantes que agregaram valor e novas formas de representação artística. No teatro, na TV, no cinema, na música, na literatura, ficamos com um enorme vazio cultural. A maioria pertenceu à mesma época de efervescência artística, despontando para o sucesso nos anos de 1950 e 1960. Com personagens nas telas, com as canções nos palcos ou com as letras no papel, cada um desses célebres brasileiros contribuiu de forma grandiosa para a nossa cultura. Daí o vazio que se espalha pelos cantos, a falta daquele brilho majestoso que ainda reluzia como as joias de uma antiga coroa. Fomos, de mês a mês, ficando um pouco mais pobres nas artes. As perdas são insubstituíveis, mas o desejo é que o cenário cultural se renove sempre, trazendo para os holofotes atores, cantores, cineastas, escritores e músicos com tanto ou mais talento que aqueles que nos deixaram. Novos brilhos que jamais apagarão o resplendor cintilante das estrelas que já não existem mais.


Por Laila.

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